Resenha do Livro "Cela e Papel" de Uili Bergamin.
O livro
"Cela de Papel" literalmente é o título perfeito para a
obra de Uili Bergamin, porque torna o leitor refém das páginas das
narrativas reais e irreais da ilu...são frenética e imaginativa do
autor. Os escritos são magníficos, de muita qualidade, um conteúdo
que possui uma perspectiva sob o mesmo olhar, contudo com uma nova
ótica, que dá um tratamento particular no confronto de
pensamentos.
Os textos manifestam ao longo do enredo
contrapontos subjetivos que acoplam a filosofia ficcional. Eu diria
que toda história ou fato pode dar uma boa narrativa. Tudo depende
de como e quem vai contá-la, e no conteúdo de "Cela de Papel"
o escritor caxiense consegue desenvolver um perfeito modo de
compartilhar suas fantasias apimentadas com as agonias da realidade,
utilizando a intertextualidade que abrange a famosa obra de William
Shakespeare, Romeu e Julieta.
Uili salienta no desenrolar de
seus pensamentos impressos o redigido: "[...] o mais
espetacular de ler aqueles livros era reconhecer-me nas
personagens." Essa declaração trata-se de um infindável
diálogo filosófico em torno de uma personagem, ou seja, o
protagonista EU que envolve outras figuras para falar de si mesmo.
Todo ser humano procura o real sentido da existência, e essa
abordagem é o retrato do que somos. É construído um
questionamento moral e imoral do que pode e não pode, ou bem e mal,
algo nesse sentido.
Já dizia o físico Albert Einstein: Tudo é
ilusão, até mesmo o tempo, porque ele não existe de fato."
Mas somos escravizados por ele e até mesmo o próprio escrito traz
uma citação de ligação: "Somos todos mortos pelo relógio.
Sempre." Os textos de Uili vão além, transpassam o papel e
criam um significado simbólico e vivo da nossa própria imagem,
pois quebram a quarta parede e cada leitor terá sua interpretação
e experiência por intermédio do discurso alusivo ao ser. Este é
composto de agonias, desejos, defeitos e qualidades e faz menção
talvez de forma inconsciente de um registro da sociedade
contemporânea, aprumada de irracionalidade e vive de ilusão em
ilusão. Exemplo: sempre fazemos as mesmas coisas, mas agimos como
se cada dia fosse diferente. Não que não seja, contudo vivemos em
um círculo vicioso de fidelidade. A diferença é que nós mudamos
em relação ao outro dia, portanto ainda assim, fazemos as mesmas
coisas.
Possivelmente os anseios da humanidade procuram por
intensidade, de um contexto de significado pessoal, e após isso
desdobram em fantasias que se alimentam de nossos desejos
acomodados, mas associados a personalidade de cada indivíduo.
O
livro "Cela de Papel" se apropria de forma coerente das
personagens intituladas Romeu e Julieta e no mesmo contexto fala da
alma do autor, e de nós mesmos, leitores, aprofundando-se na lacuna
existencial onde prevalecem as questões morais e nossas dúvidas
filosóficas. Podemos encontrar no capítulo "Duas colheres de
ilusão" essa expressão, "Eu, Romeu e Julieta", que
deixa claro que pode se tratar mais de Uili do que de Romeu e
Julieta. Na verdade, as personagens são plataformas para falar da
sua própria vida. Aquela coisa de fingir que é outra pessoa para
fazer tudo que é reprimido pela reputação social do jogo das
imagens. Isso acontece muito em filmes, novelas e teatro e também
na literatura. É uma maneira sutil de poder gritar ou somente
desabafar o que está além da aparência, que é nossa alma.
Vou
arriscar usar essa citação de Ferreira Gullar, para mencionar
minha visão a respeito destas belas escrituras de Bergamin:
"Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa
nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das ideias que
ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo."
Acho
interessante, mas não estou totalmente de acordo, quando o texto é
redimensionado à tratar a questão de Deus e o diabo, pois parece
que o diabo tem mais vez do que Deus no discurso. No entanto, é
intrigante (no bom sentido), porque na verdade é mais fácil pecar
que santificar. Não estou entrando na base do assunto religioso,
trata-se de uma metáfora de que é mais fácil ir contra as regras
do que obedecê-las.
Falar do escrito "Cela de Papel"
é muita responsabilidade, porque além de uma obra literária de
alta classe estarei indiretamente falando da alma do escritor, que
também é de alta qualidade. Portanto, reforço: é uma leitura um
tanto elitizada, muito bem escrita e cheia de links e portas para
uma reflexão dos nossos próprios pensamentos. Também é um
convite para o mundo da imaginação. Recomendo a leitura. Entre
nessa aventura de "Cela de Papel" e seja capturado do
início ao fim nesta viagem ao mundo bergamiano.